choro para não doer mais
a morte
que me naufraga
sentimentos
rio de todos os sentidos
do que vivo
na contingência de uma viagem
a liturgia é única
apesar das vestes ou dos ventos
morro como nasço
pela entropia da vida
ego esquecido
nos domínios dos tempos
porque morro vivo
porque vivo morro
tudo eu devo à morte
porque nada lhe dou
se não rédeas da memória
e mistérios que não sei
morro cada dia
o meu próprio dia
e todos os outros dias a que aceno
que da noite
que é dia
nascem novos dias
com destino à noite sem apelo
vivendo poderei
saber morrer de amores
e por amor sagrar o tempo
que à morte subtraio
arroubo de meus enganos
e meus temores
de morrer sem viver tentando
na morte
venço
porque vivo
por isso luto
2016-02-29